quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Porque atacam as nossas tradições?





Numa cidade cada vez mais desapoiada pelo Estado e com a dívida da Câmara Municipal do tamanho dum estádio, o percurso que tinha sido traçado desde o ínicio do século, como cidade de sabedoria e conhecimento, onde os pensadores da nossa pátria invariavelmente se fizeram, acabou.
Num contexto de globalização, Coimbra está a ficar para trás em relação a várias cidades a nível nacional e muito desta culpa é da comunicação social regional, que ao invés de promover a tradição da cidade, entra na nova onda sensacionalista e irremediavelmente atinge o pouco que ainda nos identifica.

Esta reflexão apoderou-se de mim hoje mais uma vez, após ter lido a notícia “Aluno ferido em praxe ficou paraplégico” no diário “as beiras”.
(Antes de mais, desejo as sinceras melhoras à jovem vítima deste infeliz acidente)

A notícia que, para quem não acompanhou ao longo do tempo a referida história, aproveita-se apenas para denegrir a praxe académica a título gratuito e em pouco atenta ás condições em que este acidente se deu. Verdadeiramente, o único motivo pela qual a praxe teve culpa foi de reunir um grupo de jovens.

No entanto, das 3 notícias que este diário publicou, 2 titulos faziam crer que a praxe foi o móbil deste acidente. Segundo sei, o jovem não era “caloiro” e nada fez contra a sua vontade. Para que foi chamada em atenção a praxe? Nada nestas notícias me leva a concluir que a palavra praxe deve estar no seu título.
Como diria Carnegie: “Todo o freguês prefere comprar a que lhe vendem” e que melhor assunto para esse propósito do que facilmente criticar a praxe numa cidade com tradicões académicas que milhares de pessoas ja vivenciaram e através dela se integraram?

Disse Soares Rebelo uns dias antes no mesmo jornal: “A tradição difere muito, naturalmente, de academia para academia, mas, quando existem abusos, isso não é praxe. Esta terá de visar sempre a integração do aluno, sem atentados à sua auto-estima e à sua integridade.”, visão que partilho com toda a convicção, sabendo que nem sempre o assim é; no entanto, aceito que desvios de comportamento são comuns em qualquer comunidade, porém aqui não foi o caso.

Assim, com a concorrência privada a aumentar, com o financiamento estatal a diminuir e com várias faculdades e cursos deveras desprovidos de qualidade, o nosso processo de rejuvenescimento da cidade tem de partir de todo o ambiente universitário que esta cidade, fugazmente, ainda consegue emanar.

Deste modo, e visando promover Coimbra como cidade, como centro de conhecimento, como musa inspiradora de canções e baladas, porque não nos juntamos e salvaguardamos o pouco de identidade que ainda nos resta? Identidade essa que se deve, em grande parte, às suas tradições académicas, que ainda hoje moram apaixonadamente no coração da grande maioria dos que por cá passaram e, espero, que perdurem nos que de cá ainda vão sair.




2 comentários:

Anónimo disse...

É verdade... quando vejo noticias no telejornal sobre praxes violentas - os abusos de Évora, a pancadaria na recepção ao caloiro em Braga, etc. - sinto sempre um arrepio na espinha porque sei que quem não conhece Coimbra vai generalizar e pensar que em todo o lado é assim - o português mesmo não percebendo nada dos assuntos gosta sempre de emitir opinião por mais ignorante que seja.
A sociedade enfrenta uma grande crise de valores e educação(por educação entenda-se civismo, respeito, boas maneiras) e tal traduz-se a nível político e em mais pequena escala, na vida estudantil dos jovens de Coimbra.
Álcool em quantidades vergonhososas - já extremamente associado à praxe, infelizmente - infracções constantes do Código que a meu ver também sofreu alterações vergonhosas, (ex.: Cortejo aos domingos?), barulho e falta de respeito incrível perante a solenidade da bela Serenata Monumental e por aí em diante.
Peço desculpa por me ter alongado tanto, mas creio que é urgente mudar.

Anónimo disse...

Sem dúvida que a praxe, tem e deve ser pensada.
Penso que o autor também o defende.
Mas realmente o desenrolar desta notícia, foi sem duvida desprestigiante para a praxe. Não percebo o que o jornalista pretende com isso, provavelmente é o que vende, como disse.
Acho que os costumes típicos de Coimbra devem ser defendidos, nomeadamente quando usam o desprestigiar da tradição por motivos que em nada lhe dizem respeito.

Subscrevo-o inteiramente.
Cumprimentos